quarta-feira, 27 de abril de 2016








chovia
as gotas na parte de fora do vidro do carro embaçavam o campo de visão
mesmo assim olhava longe; nada via, estava no quarto onde dormia
e todas as noites os fantasmas voltavam; sentia seus passos, o barulho das gavetas que se abriam
e também lá fora, na escuridão da noite algumas almas sondavam pelas frestas da janela veneziana
o medo morava dentro
e ia junto no sono, no sonho; cavalgava um cavalo sem rosto e trazia frio para seu corpo
a estrada paralela era de ferro, e ali caminhava desafiando a sorte
na outra estrada, transversal, o asfalto era quente e os perigos rondavam em quatro rodas, e seus cavaleiros sem rosto eram também portadores de frio
habitava um pequeno pedaço do imenso mundo que havia lá fora, onde os gatos e os porcos gritavam, e as pessoas mentiam

e num tempo tardio, olhando as gotas de chuva no pára-brisa do carro; o vidro embaçado pelo vapor da respiração pausada
percebe que já não há fantasmas sem rosto; todos têm semblantes pecadores
e é preciso purgar o espírito com a pena máxima
que não é de morte
mas sim de vida
-fls-

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