sexta-feira, 7 de novembro de 2014

nascida no interior a menina carregava sonhos de interior.
subir em árvores, chupar laranjas no pé, colher melancia fresca, bonecas de milho; preferencialmente as ruivas, porque lhe remetiam a si, e era a si que desejava reverenciar, referenciar; carecia de importância.
só, ousava romper com as normas da casa fugindo em busca de cheiro e suor.
arteira, ousava romper com as normas sociais espiando o vizinho tomar banho pelas frestas do banheiro "casinha" sem matajuntas.
atrevia-se também a usar vestidos muito curtos, com o propósito apenas de contrariar quem lhe acusava as pernas finas.
mas a rebelde era doce... certa vez questionada na rua se era menino ou menina, devido à sua magreza e aos cabelos arrebatados por um barbeiro sem coração que quase lhe decepa também os delírios ,respondeu apenas: -menina.
carregou a dor na garganta até chegar em casa e lavar os lençóis no tanque árido de cimento bruto.
mais tarde alguém lhe diria que sua única beleza estava na voz, pois então, calou-se.
voltou a falar quando não mais lhe arranhava a IN-delicadeza dos mortais, já que Dionísio, o semideus grego lhe convidara à divindade com um piscar de olhos...
a menina nem cresceu... apenas deixou lá atrás pendurados no varal comprido que se erguia com forquilha de árvore seus passos medrosos, seus espaços vazios, seus traços corados...
não deixou tudo, carregou um tantinho de cada, e assim caminha passos apenas cautelosos, habita espaços sem multidão, e só cora quando a alma chora...
-fls-


imagem da internet

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