quarta-feira, 26 de dezembro de 2018








O esporão atingiu bem ali, naquela ferida que sempre anda meio exposta.
Tantos cuidados dedicados ao seu sofrimento, à sua dor, às suas asas quebradas.
Agora, num vôo precoce, vai-se embora sem nenhum som, nem um olhar, nenhum adeus.
Apenas o aconchego dos seus braços e o carinho dos seus abraços desejava.
Apenas a mansidão de suas palavras precisava.
Vai quero-quero, quero te bem, além da minha saudade.


-fls-

terça-feira, 25 de dezembro de 2018








Somos gotas. 
Gota que pode preencher um oceano, ou gota que pode destruir uma casa.
Todos somos gotas, não adianta condenar o outro, ferimos e somos feridos; salvamos e somos salvos.
Carregamos toda potencialidade para o bem e para o mal. Saber como usa-la é o aprendizado que viver oferece. 
Viver não é em vão, tem seu propósito.
Que nos venha coragem pra assumir nosso 'mea culpa' e compaixão para compreender a culpa do outro.
É tudo que desejo ganhar nessa caminhada: CORAGEM.
-fls-



segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Andante, com esperança talvez eu já não saiba caminhar. Tenho duvidado tanto!
Carrego no bolso a coragem pra enfrentar os percalços.
Árvore, os ramos que de mim brotaram já podem produzir seus próprios frutos.
As raízes não abandono, mas me permito deixar o vento bater e chacoalhar, e nessa tentativa de não quebrar, posso alguns galhos derrubar e machucar o que me rodeia.
Rastro,  projeto no tempo o signo dos meus sapatos, mas certa de que essa marca deve se apagar, para que a terra aceite novas marcas.
Alma, entrego meus equívocos a quem possa olhá-los com amor, para que dos julgamentos não resulte apenas condenação, mas quem sabe, também, alguma absolvição.
-fls-

segunda-feira, 1 de outubro de 2018







Manteve-se firme,por muito tempo,contra a correnteza.
Quando voltou-se para o fluxo,já era pedra polida.
-fls-















sangrou.e junto ao sangue escorria a vida que guardava.escorria sem choro sem dor sem medo.apenas lamento.teria que lacrar as roupas não usadas os dias não passeados os planos não cumpridos as palavras não ditas os amores não amados os abraços não dados...toda uma vida.
ninguém a viu sangrar.o líquido vital escorreu invisível pelas pernas pelas frestas pelas ruas pelas portas pelos becos pela vida.
agora já era tarde.o fruto vazou escureceu morreu.precisa cobrir de luto e terra o rebento perdido e dar ao tempo tempo para trazer algum conforto.
-fls-
nascida no interior a menina carregava sonhos de interior.
subir em árvores, chupar laranjas no pé, colher melancia fresca, bonecas de milho; preferencialmente as ruivas, porque lhe remetiam a si, e era a si que desejava reverenciar, referenciar; carecia de importância.
só, ousava romper com as normas da casa fugindo em busca de cheiro e suor.
arteira, ousava romper com as normas sociais espiandoo vizinho tomar banho pelas frestas do banheiro "casinha" sem matajuntas.
atrevia-se também a usar vestidos muito curtos, com o propósito apenas de contrariar quem lhe acusava as pernas finas.
mas a rebelde era doce... certa vez questionada na rua se era menino ou menina, devido à sua magreza e aos cabelos arrebatados por um barbeiro sem coração que quase lhe decepa também os delírios ,respondeu apenas: -menina.
carregou a dor na garganta até chegar em casa e lavar os lençóis no tanque árido de cimento bruto.
mais tarde alguém lhe diria que sua única beleza estava na voz, pois então, calou-se.
voltou a falar quando não mais lhe arranhava a IN-delicadeza dos mortais, já que Dionísio, o semideus grego lhe convidara à divindade com um piscar de olhos...
a menina nem cresceu... apenas deixou lá atrás pendurados no varal comprido que se erguia com forquilha de árvore seus passos medrosos, seus espaços vazios, seus traços corados...
não deixou tudo, carregou um tantinho de cada, e assim caminha passos apenas cautelosos, habita espaços sem multidão, e só cora quando a alma chora...
-fls-








Essa dor
Que corta os pulsos
É faca afiada
No medo
Impulsos... 
Arames farpados
Sao as palavras
Não ditas
De adeus
-fls-
  • Sós, no colo da noite
    Vamos adormecer bebê
    A escuridão é tão longa meu anjo
    Dê-me aqui sua mãozinha
    Vamos voltar meu bem,
    Pra ontem, antes de você chegar?
    Vamos ficar protegidos, dentro de mim,das maldades que o medo fará conosco
    Seremos arrastados feito folhas ao vento
    Esse abraço que nos aquece
    Se perderá num rasgo no tempo que está por vir
    Será tão cruel o futuro que nos aguarda
    Não terei mais seu corpo frágil
    Adormecido no meu
    O encanto será morto nos dias que estão por vir
    Dorme bebê, eu amparo seu corpinho
    Dorme e sonha
    Que a manhã chegará trazendo tempestade e frio
    Pra dentro do nosso amor
    -fls-








Uma invasão de saudades antecipadas
mesclando-se aos adeuses já passados,
surfando na superfície dos meus pêlos eriçados
como folhas na superfície de ondas do mar,
encharca as horas que tenho a navegar
com ausências presentes e presenças cultivadas. 
_fls-






A rudeza sempre esteve presente na casa. Dentro, morava nas mata-juntas, feito aranhas, que deixam uma perna exposta pra marcar presença.
La fora, morava onde os porcos e os gatos gritavam, no desespero do instante.
Bradava ou sussurava, sempre ao sabor dos ventos, imprevisíveis, que descortinavam as janelas.
À mesa, uma grande toalha caindo quase ao chão, criava o vácuo, o lugar onde se permitia a fuga. 
Nem bondade nem maldade: apenas o dia a dia crônico e exaustivo das pessoas que ali viviam. O enfado vivia nos suspiros que se ouvia entre as palavras.
Rusticas, as palavras jogadas contra as paredes.
Rusticos, o silencio e as falas.
Rusticos, o passado, o presente e o futuro.
-fls-


As palavras pontiagudas entram fazendo estardalhaço nas células do ouvido, estilhaçando todo e qualquer sentimento à sua volta. Não,não é suicídio, é crime de ódio.
No suicídio a alma fenece e descansa. No ódio segue erosada.
E na sequência das horas, na escuridão ou na clareza dos dias, está sempre o medo remetendo ao que passou ou ao que virá. Tanto faz; ele sempre esteve e sempre vai estar armado até os dentes, apontando sua arma que dispara discórdia, solidão, pecados que não terão perdão.
Constrói-se a vida mesmo assim, em torno das pedras que batem à janela, ameaçando jogar os cacos de vidro na cortina com a qual se protege os tesouros.
Não há tempo para fugir, nem portas por onde sair. É preciso arranhar a pele com as unhas pra se sentir forte diante do perigo que mata o sonho.
Não há caminho de volta, nem para onde ir; é pela contra mão que o terror entra, atingindo de frente todos em seu caminho. As lembranças a carregar serão aquelas que cada um escolher.
As verdades não virão à tona, nem os disfarces que se criou para sobreviver em meio à tempestade. As ondas gigantes que inundaram a casa e trouxeram o tsunami voltam sempre, às vezes disfarçadas, mas são sempre as mesmas, fazendo da história um permanente funeral de afogados.
-fls-







a fantasia que usas já não me serve
estrangulo as palavras pra não rasgá-la
a transparência o deixa nu
e o que avisto é alma maculada
é veste já tão sem brilho
espartilho
alambrando meu coração

-fls-











de tristeza em tristeza
às margens do rio de lágrimas
brotou um pé de chorão

-fls-
"de tristeza em tristeza
às margens do rio de lágrimas
brotou um pé de chorão

-fls-"






Eu tento/ quebrar esse gelo / mas é um iceberg construído de ódio/ e queima como fogo.
Qual fumaça de incêndio/ invade as entranhas da respiração/ sufoca o peito/ e impede a visão.
Eu tento/ nadar nessas águas/ mas é um mar de ressentimentos/ tantos sonhos/ quantas ilusões/
e o prêmio é o sofrimento.
Eu tento/ cantar nesse show/ mas a platéia não me ouve/ cantam outra canção/ falam do amor/ e pregam a paz/ mas estão num embate/ e para sobreviver/ tudo e nada se faz/ e o troféu nos abate.
Tanta dor/ fruto do amor.
Tanto ódio/fruto do amor.
Tanto amor/ pesado andor!
Ah, o amor/ lança fina que machuca fundo/ constrói e destrói/ transforma o mundo/ e nos deixa em
meio às cinzas relegados.
São tantos os pecados desses renegados do amor.
Pobres coitados/ esses desesperados por amor.
-fs










"meu amor 
se tua dor passou
me poupa
a minha não acabou
o nosso amor
foi de vento em polpa
-fls-"
meu amor 
se tua dor passou
me poupa
a minha não acabou
o nosso amor
foi de vento em polpa
-fls-


Quando não coube mais em mim...saí.
-fls-















"Quando não coube mais em mim...
saí.
-fls-

foto da internet"



A vida é lutar e deixar. Trabalhar os dias.
Lutar contra os ventos fortes que podem nos derrubar.
Deixar que as brisas suaves nos acariciem.
Não há um dia sem luta.
Não há um dia sem brisa.
É esse emaranhado turbulento qual tsunami; é vento fresco qual hortelã. 
Tudo nos é servido. Temos que polir a pedra bruta para poder apreciar seu brilho.
-fls-







Lá de onde eu vim sempre chovia
Uma chuva fria,uma chuva incauta
Caía sem esmero
Alfinetando um mundo já severo
Caía e escorria, doía
E seguia seu curso, eu exausta...
Eu andava pela estrada
Fria e fina, medrosa
Água sem cheiro, melindrosa
Num caminho feito de nada...
Lá de onde eu vim
Sempre chovia pedras
Pontiagudas e frias.
-fls-






Essa meia felicidade a que temos direito, 
Faz-nos, por inteiros, 
Doloridas partes.
-fls-




Foi difícil.
Naquele dia o ar entrava sôfrego. Não havia compasso entre o inspirar e o expirar. Suas entranhas eram tão fundas quanto às da Terra e, quentes, lhe tostavam o estômago. Mas não saber o que haveria além do momento, de repente, era atenuante. Até então havia sido razão de incertezas e medo. Em meio ao atropelo das emoções encontrara, dolorosamente, um caminho híbrido: tênue, mas propício.
Enfim, resignara-se. E esse fora seu imenso ato de sanidade e coragem!
-fls-
conduz o carro e se conduz pelas ruas molhadas a água escorre pelo vidro fazendo poças junto aos meios-fios precisa rodar devagar há pessoas lá fora tentando se defender dos pingos grossos que unidos compõem a cascata fria que escorre olha pelo retrovisor e vê o tempo corroendo seus sonhos pessoas usam guardas-chuva enquanto animais correm procurando um abrigo é preciso frear há impulsos batendo no peito não pode derrapar nas curvas a vida não é uma reta há vida nos atalhos mas lá não existem faróis na terra a água faz lama e suja o paralama é instável andar de ré de costas não se vê e no espelho não se reconhece mudar de pista é perigoso precisa dar um sinal mas tem medo de que não vejam ali na frente um acidente vontade de ajudar ali ao lado uma seta vontade de seguir há muitos guardas pra julgar se atreveria à uma infração se o asfalto fosse bom não sabe dirigir de salto quer dar um salto pela janela lateral acabar com todo mal o pé no acelerador acelera o coração....abre o sinal a vida continua no párabrisa o limpador faz brisa com os respingos se sente nua e molhada na chuva
-fls-
estes gemidos meus
são de dor que me fere a carne
e me rasga a alma
pois nasço e dou à luz
todos os dias, num movimento
de quadris e paixão
e neste contexto dual
mora o medo, o medo, o medo...
-fls-
E quando a saudade dentro dela já é farta, ele vem, sempre um embuste entre as frestas de seus sonhos, um suspense no ar acenando para uma separação
Anuncia sua volta em meio aos sorrisos soltos no ar, nenhuma palavra, hiatos no olhar, felicidades fáceis
E ela fita atônita, catatônica, presa na bolha de ilusão anunciada, anunciação do adeus
E ela chora, chora a abundância de sua presença sempre ausente deixando espaços entre seus suspiros de solidão
A solidão sim, sempre uma constância fatídica e cúmplice
Pois que, em todas as suas alegrias vividas sempre lhe faltou seu riso
-fls-
chovi muito
derramei sobre mim todo o peso da imensa nuvem de saudade
e dessa água salgada bebi, qual água do mar arranhando-me a garganta
e ardendo em meus olhos
no meu oceano de adeuses
sua ausência suada faz molhar meu chão
onde permaneço na esperança de um dia
ser a menina dos teus olhos úmidos
-fls-

01-10-2014

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Manteve-se firme,por muito tempo,contra a 

correnteza.

Quando voltou-se para o fluxo,já era pedra 

polida.

-fls-