sexta-feira, 20 de maio de 2016
quarta-feira, 27 de abril de 2016
chovia
as gotas na parte de fora do vidro do carro embaçavam o campo de visão
mesmo assim olhava longe; nada via, estava no quarto onde dormia
e todas as noites os fantasmas voltavam; sentia seus passos, o barulho das gavetas que se abriam
e também lá fora, na escuridão da noite algumas almas sondavam pelas frestas da janela veneziana
o medo morava dentro
e ia junto no sono, no sonho; cavalgava um cavalo sem rosto e trazia frio para seu corpo
a estrada paralela era de ferro, e ali caminhava desafiando a sorte
na outra estrada, transversal, o asfalto era quente e os perigos rondavam em quatro rodas, e seus cavaleiros sem rosto eram também portadores de frio
habitava um pequeno pedaço do imenso mundo que havia lá fora, onde os gatos e os porcos gritavam, e as pessoas mentiam
e num tempo tardio, olhando as gotas de chuva no pára-brisa do carro; o vidro embaçado pelo vapor da respiração pausada
percebe que já não há fantasmas sem rosto; todos têm semblantes pecadores
e é preciso purgar o espírito com a pena máxima
que não é de morte
mas sim de vida
-fls-
percebe que já não há fantasmas sem rosto; todos têm semblantes pecadores
e é preciso purgar o espírito com a pena máxima
que não é de morte
mas sim de vida
-fls-
quarta-feira, 20 de janeiro de 2016
sangrou.e junto ao sangue escorria a vida que guardava.escorria sem choro sem dor sem medo.apenas lamento.teria que lacrar as roupas não usadas os dias não passeados os planos não cumpridos as palavras não ditas os amores não amados os abraços não dados...toda uma vida.
ninguém a viu sangrar.o líquido vital escorreu invisível pelas pernas pelas frestas pelas ruas pelas portas pelos becos pela vida.
agora já era tarde.o fruto vazou escureceu morreu.precisa cobrir de luto e terra o rebento perdido e dar ao tempo tempo para trazer algum conforto.
-fls-
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
Carregava nos olhos uma tristeza que lhe pesava nas pálpebras. Sentia que havia um dever a cumprir, isso impulsionava e exauria, teimava em crer que a vida era uma sequencia de deveres: de estar bem, de sorrir, de fazer sorrir, de seguir.
Carregava no ventre um sonho, morto. Sonhos mortos são fantasmas pesados, mas não há lugar tão nobre como as entranhas para enterrá-los.
As vozes dos anos passados lhe seguiam passo a passo, reproduzindo um som de aves alvoroçadas procurando pouso.
Os braços, esses galhos para abraços, feito cipó lhe agarravam o próprio corpo em busca de possíveis amores inventados.
Seu mundo era agora um cenário de guerra onde nada lhe parecia inofensivo,à espera de que novas sementes lhe fossem oferecidas para replantio.
-fls-
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
naquela tarde ao trocar de roupa para sair decidira que não sairia com a cara lavada. já havia tempo que não se importava; foi desde o último desengano, quando perdeu a fé nas pessoas. mas andara refletindo, e teve até uma ocasião em que a vida lhe colocara no caminho dois seres tão bonitos, mas tão bonitos que seu ânimo deu uma guinadinha. pensou: -acho que isso é um presente do Universo, devo merecer. então naquela tarde colocaria uma camiseta colorida, alegre e disfarçaria as olheiras (coisa de quem dorme pouco) e também disfarçaria algumas 'imperfeições' que lhe incomodavam. passou pela sua cabeça um pensamento fuzilante: -será que assim eu não sou eu? mas ela mesma respondeu, porque naquela tarde não queria nada que não lhe fizesse bem: -claro que sou eu, sou eu fazendo mimetismo com a alegria. afinal, cansara do tédio da roupa cinza, cansara da mesmice do moleton, e claro, cansara-se também da cor roxa em volta dos olhos. quem sabe naquela tarde tudo lhe pareceria mais belo lá fora? sempre havia coisas lindas lá fora, mas ultimamente não as enxergava, seus olhos ficaram envoltos em incredulidade. terminou os retoques e saiu procurando felicidade onde alguns dias antes não encontrara.
-fls-
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