quarta-feira, 17 de setembro de 2014














olhou fundo nos olhos do outro...

disse-lhe tantas mentiras


que o espelho quebrou!


-fls-











estes olhos, donos de uma profundeza vaginal;

quando os encaro, assim, delirando,

apertando-me contra os travesseiros, me toma


 um desejo

de que um só dos teus olhares me penetre...


-fls-

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

   



E foi num dia assim que decidira partir.
Apenas mais um dia em meio aos dias conturbados do dia-a-dia.
Mas o escolhera para ser o último dos seus. Nenhuma promessa feita, nenhuma oração, nenhum telefonema, alguns pedidos num pedaço amassado de papel.
Resolvera deixar aos outros o susto, a indignação, a dor e a saudade.
Compreendera que podia manipular o tempo. Sabia naquele momento, que a vida não, mas a morte podia ser premeditada.
-fls-

Havia tanto abandono em seu caminho que as permanências lhe enchiam de medo. Seu solo não estava preparado para tantas raízes.
À noite seus pesadelos eram sempre sobre os que se foram.
E seus olhos passavam o dia procurando a quem seduzir, pilares fixos pra encostar seu vazio. Acabara por gostar dessa busca, um frênesi que girava a corda do seu espírito fatídico.
Sabia de alguma forma que tudo que amasse perderia. E amava pra perder. Perder era a receita pra uma nova busca. E amava andar sobre cordas-bambas por arrebentar, sobre fios frágeis prestes a lhe derrubar.
Cair era o álibi pra se reerguer, sempre, e tão periodicamente que virasse rotina, que a mantivesse viva.
A vida estava numa rotina de sevícia para a alma.
-fls-

segunda-feira, 1 de setembro de 2014









o calor no corpo , fogo
não queria habitar seu pensamento
queria instalar-se em sua pele, bactéria
o remédio trazia em seus dedos
ávidos por curar a febre do desejo
manter a temperatura, alta
nos olhos, sede
na boca, fome
nas mãos, toques
do prazer que cura
-fls-







perdeu-a num jogo
um jogo de palavras faltantes
sal
ti
tan
tes
pulando no abismo
de sua (N)mudez.
-fls-















flertei com Sofia

Sônia foi embora


levando o abraço de Morfeu


-fls-








O coração sempre se antecipa
à outra parte de mim
sai na frente
deixando um espaço sem aderência
Ali, no oco, é que existo
na ninha (IN)permanência
-fls-










Os lábios secos, ansiosos
buscavam saliva fresca no outro
Nas línguas nervosas
palavras de adeus
Olhos úmidos, sal nas bocas
a sede era de tempo

De um tempo que parasse
e feito espuma amortecesse
o choque entre suas peles, seus pêlos
E era espuma igual à do mar
que afogava tanto desejo
-fls-