segunda-feira, 30 de junho de 2014










            quando escrevo

               

             inscrevo-me


             no todo fora de mim


                 -fls-







domingo, 29 de junho de 2014

eu te aninhava em meus ofegantes braços
e tua respiração abraçava meu medo
tua partida, iminente, arranhando a garganta
o adeus desatando nossos abraços
voaste...e agora a saudade é um brinquedo
com o qual sufoco esse desenredo
-fls-

teu deserto consistente, ventos gélidos

farelos de cimento seco e cinza


meu tormento cálido


-fls-

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Palavras podem ferir e matar
assim feito facas, pistolas ou fuzis
nos atingindo com vigor e velozmente...
Silêncio também.
Só que esse, muito mais cruelmente
nos ferirá fundo e devagar, feito harakiri.
-fls-

quarta-feira, 18 de junho de 2014

dizer adeus

verbalizar a ausência


liquefazer-se em saudade


-fls-
seus olhos não choravam e não sorriam
eu não podia entender
por que amanhecera aquele dia
tão cruel com você

foi uma maldade tão sutil
velar seu corpo interdito
eu procurava seu assovio
e só encontrava meu grito

ainda queima aquela lágrima
escorrida peito abaixo
como sumo de melancia
lambuzando nossos abraços

nosso mundo chorou; o céu, o chão, a tarde
molhando o futuro com medo
levando-te de mim com seus segredos
encharcando a vida de saudade

-fls-

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Engolir as mentiras oferecidas em taça de estanho
Olhar pra trás e virar pedra, habitante de Sodoma
Sob as lavas de um vulcão de farsas, fogo e lama
E sob o gelo de um olhar agora estranho
Na garganta as palavras feito barbantes
Aninhadas e enroscadas na epiglote
Talvez, como pena, escolhesse a morte
A esse prato de verdades nauseantes
-fls-
tento salvar meu coração guardando-o nesse silêncio ácido
costurei um sorriso nos meus olhos mas não posso vê-lo
desalinhavo saudade
espremo as horas
tento salvar meu corpo guardando-o num suspiro ávido
desagüei tantas lágrimas no meu rosto mas não posso bebê-las
estanco os desejos
crio metáforas
-fls-

quinta-feira, 5 de junho de 2014

eu me perco nessas ruas que compõem o meu mapa
por elas circulam pessoas tantas
algumas eu encontro nos cruzamentos, sempre ou de repente
outras ficarão pra sempre nas paralelas
mas meu peito anseia por encontrar todas elas
caminho atenta procurando os rostos
mas na multidão eu os desconheço
pesa-me carrega-los, todos, ladeira acima, ladeira abaixo
no coração que luta ansiado pra alcançar seus apreços
o amor é um peso mórbido
que nos atinge nos meios-fios distraídos
das esquinas onde a razão se perde
e nos coloca frente ao medo, combalidos

-fls-


e o silêncio do outro lado do fio
que liga as artérias, minha e sua
infarta a esperança
e intumesce a saudade
o tempo e sua brevidade
corta a batida do marca passo

ofuscando até o brilho da lua


-fls-